Notícias 12 Junho 2015

Três coisas que podemos aprender com o Chile sobre empreendedorismo Destaque

Três coisas que podemos aprender com o Chile sobre empreendedorismo

“Foi mal pela demora, a gente tá todo perdido no horário aqui, que mudou esse fim de semana”, disse o empreendedor paraibano Vinícius Maracajá Coutinho, durante uma conversa por Skype. “Acabou de ter um terremoto aqui, velho. Acordei com um pulo de seis horas da manhã”, continuou. Desde 2011, a rotina de Vinícius oscila entre o Brasil e o Chile, onde alocou o seu negócio empreendedor, a Beagle Bioinformatics, através do programa Startup Chile.

O primeiro projeto da startup é o Nimbus Gene, que foi o carro-chefe da aplicação no programa Startup Chile. A ideia do produto, que tem previsão de lançamento para seis meses, é fornecer uma plataforma amigável para o gerenciamento em nuvem de pesquisas no campo da genética. Mas o serviço mais viável e previsto para entrar em operação em breve é o Dodo Genetics, primeira plataforma de crowdfunding destinado apenas a financiamento coletivo de pesquisas em genética. A empresa tem um branch em São Paulo e outro em Santiago, e toda a equipe de desenvolvimento e design está em João Pessoa.

Vinícius, formado em Ciências Biológicas e com PhD em Bioinformática pela USP, não é um exemplo raro de empreendedor que deixou a sua terra natal para tocar uma empresa na terra dos Andes. Desde 2010, startups de vários países protagonizam uma espécie de sionismo dos negócios com destino à capital chilena. E esse movimento, que ainda tem muito a agregar não só à economia do país como também a todos os envolvidos na cadeia produtiva das empresas, deve-se a uma conjuntura de fatores onde o Startup Chile é a cereja do bolo.

“Antes de 2010 não existia um ecossistema empreendedor no Chile”, lembra Vinícius. “A ideia foi criar esse ambiente, esse ecossistema, trazendo membros do mundo inteiro para usar o Chile como pontapé inicial para sua startup, sua empresa, seu negócio. Eles trazem cerca de 300 equipes por ano e conseguem fazer com que muitas fiquem no país”, diz. Quais são os segredos por trás do sucesso em um programa macroempreendedor que pode alavancar a economia de um país latino americano?

1. Esforço conjunto

Sebastiàn Vidal, diretor-assistente do Startup Chile, também diz que as coisas não eram tão fáceis antes de 2010. Assim como no Brasil, existia muita burocracia, e era caro estabelecer uma empresa no país. “O Chile hoje tem uma presença onde nunca teve antes. E esse não era o caso há alguns anos atrás”, explica Vidal. Mas ele lembra que o mérito de tornar o Chile uma referência para novos negócios não se deve apenas a um programa de fomento. A coordenação de esforços entre governo e iniciativa privada também teve um papel fundamental.

“O governo chileno prometeu criar novas oportunidades para empreendedores e deu vida a essa promessa com o Startup Chile e mais de 40 outros programas criados para ajudar os empreendedores – todos eles funcionam através do CORFO, agência de desenvolvimento que suporta o Startup Chile”, descreve Vidal. “Algumas legislações e processos burocráticos também mudaram, apenas para garantir que os empreendedores no Chile tenham mais espaço para converter suas ideias em negócios”.

Isso indica que é do interesse geral da nação que o país se torne um dos mais promissores ecossistemas para novos negócios da América Latina e, quem sabe do mundo. Não é possível mudar um panorama historicamente calcado em burocracias e taxas apenas com boa vontade: é preciso uma atuação conjunta das três esferas de poder, da população e da iniciativa privada. “O país tem uma meta clara, que é de se tornar um país de primeiro mundo até 2022”, diz Vinícius.

2. Preparar startups globais

Outro fator decisivo para o desenvolvimento empreendedor é a diversidade. Desde o início, o Startup Chile abriu para aplicações de empreendedores estrangeiros, o que atraiu cabeças de todos os lugares imagináveis: Índia, China, Alemanha, Estados Unidos, Brasil, todos correndo atrás de um porto seguro para desenvolver e aplicar suas ideias de negócios.

“Esse é um componente-chave para o Startup Chile: selecionamos boas ideias, não importa de onde venham. Nosso filtro é a excelência, e não passaportes”, garante Vidal. Acreditamos que reunir pessoas de todo o mundo pode construir um ecossistema onde as ideias são discutidas a partir de diferentes pontos de vista. Isso também é bom para quem tenta construir produtos para uma audiência ampla: quanto mais feedbacks você tiver, melhor. Um mix cultural garante que ideias diferentes interajam na comunidade”, explica.

O Startup Brasil – inspirado na experiência chilena – integra o projeto TI Maior, e neste ano está equilibrando a quantidade de ofertas para empresas nacionais e estrangeiras. Isso serve para arejar o ambiente, mas também mostra uma certa preocupação com a limitação da atuação das startups locais. Muitas têm aplicativos e websites apenas em português, por exemplo. O Brasil tem um amplo mercado, mas em qualquer lógica, bilhões superam milhões.

“Não aceitamos projetos com foco apenas no mercado chileno. Nós procuramos empreendedores que pensam globalmente”, afirma Vidal. Uma outra startup que germinou no ventre do programa, e que abraça radicalmente o think global, é a Canubring – essa desenvolvida por um chileno.

3. Desburocratização radical e isenção tributária

Há alguns meses, foi aprovada no Chile uma lei que permite que uma empresa seja criada em um dia, sem taxas e sem qualquer burocracia – apenas uma documentação mínima é necessária, tanto do fundador quanto do sócio, caso exista – e completamente online. O projeto foi publicado no Diário Oficial do país no dia 8 de fevereiro, e já está em vigor. Não apenas a abertura, mas também a falência, divisão, fusão, dissolução das empresas e outras operações foram facilitadas com a lei.

Para abrir a empresa, o empreendedor precisa de um documento eletrônico chamado Firma Electronica Avanzada (FEA), que pode ser facilmente obtida em provedores de serviço autorizados. A partir daí, já é possível acessar o sistema e atualizar os dados relativos ao empreendimento, ou seja, a empresa já existe legalmente.

Outra lei importante é a Lei de Quebras que, dentre outros benefícios à empresa e aos colaboradores, prevê o pagamento de uma indenização ao trabalhador cuja empresa foi à falência, em geral equivalente ao mesmo salário do último mês trabalhado – podendo variar de acordo com a situação, como, por exemplo, de trabalhadoras gestantes. O objetivo, segundo o ministro da Economia, Félix de Vicente, é garantir que as empresas possam se recuperar rapidamente em caso de falha de um projeto empresarial. A mudança alivia a pressão sobre as startups, que sempre arriscam novos negócios sem nenhuma garantia de sucesso.

A atualização da Lei de Falências brasileira data de 2005 e trouxe algumas melhorias significativas, como a prioridade da negociação entre credores e devedores, ao invés do envolvimento direto do Judiciário. Também passou a ser necessário ter uma dívida equivalente a 20 salários mínimos para que fosse ajuizado um processo – antes até dívidas de mil reais iam parar na Justiça, o que aumentava a morosidade. Por outro lado, oSimples Nacional, em vigor desde 2006, permite um regime tributário diferenciado para pequenas empresas, e programas como o Microempreendedor Individual facilitam a formalização. Mas ainda não é fácil iniciar um novo negócio no Brasil, já que as taxas somam, em média, mais de 2 mil reais, cerca de 40 documentos e alguns meses de espera e paciência.

Os estados brasileiros estão implementando medidas que preveem a abertura de novas empresas em um dia. São Paulo, por exemplo, já conta com um sistema de desburocratização, embora ainda engatinhando. Outros estados já estão dando andamento a iniciativas semelhantes, alguns com previsão ainda para 2013.

Fonte: http://www.administradores.com.br/

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